sábado, 30 de julho de 2016

Poema 2 - Diamante bruto

Um dia pensei ter uma filha
Planejei ter uma vida
Fiz planos numa multidão
Acreditei ter uma família
Um esposo
Mas o belo nunca existiu
Numa casa
O vácuo
O desabrochar da solidão
Num coração
O estreito
O fechado
O único
O tal qual
O ser só
Mãos se movimentam cansadas
Ombros caídos
Já envelhecidos pelo tempo  que não viveu
Não há lagrimas
O mar não deixa que desaguem
Tudo parece existir
Mas é nulo
Exata só a fome
Exato é o dia que vai amanhecer
O restante é inexato
Porções de carinho
Cem anos são suficientes?
Pare...
Ou deixe que pare o tempo
Uma bala atirada não se recolhe
Um grito de dor não volta para a garganta
O amanhã não é o hoje
Lágrimas posteriores não resolvem
O sorriso do passado é apenas um sorriso
Um coração que já bateu
Não é aquele que pulsa
Pulsa no passado
A lápide espera
Agora apenas tem um nome
O vasto mar a deriva
A vida tão pequenina

Ângela Mª Stos